Faltam 10 dias…

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AMAMENTAÇÃO (quase) exclusiva e até quando Deus quiser!

Neste mês de julho de 2008 comemoramos 1 ano e 10 meses amamentando meu pequeno Kael. São aproximadamente 660 dias ou algo em torno de 3.960 mamadas! Uau!

“É suficiente”, diriam uns. “É demais”, diriam outros. “Ainda mama?”, se espanta a maioria.

Em casa nós dizemos: “Estamos quase chegando à recomendação da Organização Mundial de Saúde!”. E meu marido completa: “Quando ele entrar na universidade, ele larga”.

Como chegamos até aqui? A começar graças à minha disposição de mãe-mamífera, pois mais do que ninguém, nós (mães-mamíferas) temos que acreditar na nossa capacidade, ter muita determinação, perseverança, paciência e dedicação, assim conquistamos a confiança e o apoio de todos à nossa volta.

Mas como ninguém faz nada sozinho nessa vida, vencemos várias ‘batalhas amamentícias’ com o GRANDE APOIO de pessoas muito especiais:

 

Dra Leila: médica-comadre-amiga, me proporcionou o que considerei o primeiro passo para o nosso sucesso na amamentação: meu parto normal. Sim! Depois do parto me tornei muito mais segura, minha auto-estima melhorou e afinal, se eu tinha conseguido parir, era capaz de qualquer coisa!! Ao longo da amamentação me deu dicas de como diminuir o empedramento, meu companheiro constante, com a inesquecível técnica do ‘bebê rotativo’
Dra Gabriela: 1ª pediatra do Kael, o acompanhou em Recife no seu 1º ano de vida. Nesse tempo todo nunca sugeriu a introdução de leite artificial, pelo contrário, sempre me estimulava a estocar leite materno para o retorno ao trabalho e nos medicou na nossa primeira dificuldade: uma candidíase no mamilo por conta do uso de protetores de algodão. Ele estava com 10 dias de vida e eu tinha ligado na véspera pra perguntar pra ela quanto de NAN eu podia dar. No dia seguinte tínhamos consulta e ela avaliou o mamilo, passando remédio pra mim e pra ele. Insistiu pra continuar amamentando que iria ficar tudo bem. Nossa, como isso dói, arde, queima! Graças a essa candidíase nossa amamentação foi classificada como “quase-exclusiva”. Por 16 dias dei complemento de 60ml de leite artificial uma vez no fim do dia para que os pobres peitos ardidos pudessem respirar um pouco e se recuperar.
Graças ao Banco de Leite Humano do IMIP (Instituto Materno Infantil de Pernambuco) conseguimos nos libertar da lata de NAN aos 25 dias de vida. Impressionante a dependência que sofremos de uma miserável lata de leite! Lá no BLH do IMIP ele foi pesado (já havia ganhado quase 1kg), avaliaram a pega e o mamilo (já sem cândida) e me perguntaram por que eu complementava. Sem uma resposta decente, não restou outra alternativa senão abandonar o julgo daquela tal lata de leite. Cada dia sem o NAN era uma vitória… 1 dia sem NAN! 2 dias sem NAN! 3 dias sem NAN… até que… perdi a conta e recuperei minha confiança na minha capacidade de nutrir! Voltei algumas outras vezes por lá, para pasteurizar leite para estocagem, outras para doação, e ainda para avaliação médica quando tive uma ‘mini-mastite’ no retorno ao trabalho. Sempre fui MUITO bem atendida.
Amigos: alguns amigos em especial me ajudaram muito nessa jornada, como a Suzana que me repetia insistentemente para eu conhecer o IMIP (desde a minha gravidez); a Fabiana que me emprestou a bombinha tira-leite que salvou nossas vidas no retorno ao trabalho e nas incontáveis empedradas do caminho; Suely, parteira-comadre sempre orientando como lidar com a leitaria, penteando o peito, com banhos mornos ou simplesmente dedicando uma palavra de incentivo; a Analu, doula-amiga e constante companhia de mamódromos, fraldários e afins; Nélia, Aninha, Júlia, Dan e toda a turma mamífera que eu conheci depois que o Kael nasceu, minhas fontes de inspiração, minhas iguais.
Empresa, Chefe e Colegas de trabalho: voltei a trabalhar 1 semana antes de Kael completar 4 meses. Havia estocado alguns vidros de LM, mas como trabalhava longe e não podia voltar para almoçar em casa, o estoque tinha que ser muito maior. Não conseguia extrair suficiente durante a semana nos momentos em casa, então tive que ordenhar no trabalho, aproveitando as mamas cheias de saudade do meu pequeno. Usava uma sala de reunião, contando com um ‘colega-porteiro’ – que sabia o que se passava dentro da sala com papel afixado na janelinha de vidro. Retirava em torno de 150ml por dia que servia basicamente para a alimentação do dia seguinte, assim, sempre que podia em casa, nos fins de semana, estimulava a produção para conseguir garantir o estoque da semana. A geladeira da copa virou uma sucursal do IMIP, cheia de vidrinhos de leite, e o pessoal da limpeza já sabia que não poderia limpar a geladeira enquanto estivessem meus vidrinhos por lá. Até isso foi combinado pensando no Kael: o dia da limpeza da geladeira da empresa! Além disso, quantas vezes tive que sair correndo porque não tinha estoque suficiente e estava chegando a hora dele mamar, ou ainda por que tive que ir ao IMIP com ‘febre de leite’ ou para as regulares consultas à pediatra? Sem o apoio das minhas colegas, da minha chefe e a postura da empresa não teria dado certo.
Fábio: esposo, pai do Kael e companheiro de conquistas. Seu apoio vem desde a jornada rumo a um parto respeitoso, compreendendo minhas necessidades e expectativas. Com o nascimento do Kael acordava de madrugada e me socorria pegando o bebê pra mamar, colocando pra arrotar, ajudando nas cólicas. Nunca nem sequer passou pela cabeça dele que meu leite não fosse suficiente para nutrir seu filho, que crescia e engordava a olhos vistos. Ensaiou alguns ciuminhos ao me ver amamentando rua afora, mas logo percebeu que a finalidade era pra lá de nobre e uma fraldinha resolvia a parada. Não consigo imaginar como seria se ele não acreditasse na minha capacidade. Certamente não teria conseguido.
‘Mana’: minha babá, que virou babá do Kael. Após 30 anos cuidando de mim ela sempre se dedicou a cuidar do meu filho do jeito que eu determinei, e como a determinação era amamentação em livre demanda, evitar mamadeiras e aleitamento exclusivo até os 6 meses… Ela cumpriu seu papel sempre me lembrando de colocar a concha na sacola, escaldando e congelando intermináveis vidros de nescafé, lavando minuciosamente a bombinha tira-leite, posteriormente oferecendo com paciência invejável LM descongelado em copinho, depois em colherinha. Sem ela teria sido impossível o sucesso da amamentação especialmente após o retorno ao trabalho.
Mamãe: embarcou conosco na jornada. Sou filha única, Kael é o 1º neto… Muitas novidades desde meu nascimento em 1978. Achou meio esquisito quando eu recusei um ‘esterilizador de mamadeira’ que minha tia daria, mas aos poucos compreendeu que item mais desnecessário não poderia existir em uma lista de bebê. Mamãe participou como uma grande apoiadora em nossas decisões, desde o parto até a inevitável constatação que meu leite era a única coisa que o Kael precisaria até os 6 meses. Na verdade acho que ela nunca duvidou da minha capacidade, como é característico dela. Esteve presente na 1ª mamada, esteve presente quando sucumbi ao NAN, esteve presente quando me libertei do NAN, esteve presente quando comemoramos 6 meses de LM (tá, semi-exclusivo, mas vale a comemoração!) e está presente no processo de amamentação ‘quase-prolongada’… Sabe que o desmame ainda não está planejado e será lento, no nosso ritmo, por isso é capaz de viajar muitos km comigo para levar o Kael em meus compromissos profissionais e não interromper a amamentação bruscamente. Outra figura fundamental no nosso sucesso!

Então é isso! Não tem mistério! É graças a essa “tropa de elite” que temos levado esses 660 dias de nutrição, amor e saúde.

Thaíssa, mãe do Kael

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14 Respostas to “Faltam 10 dias…”

  1. Nelia Says:

    Sempre digo que Thay foi um dos maiores presentes que ganhei com a chegada de Gabriel, uma grande mulher, fiel a seus princípios e uma guerreira como poucas da luta pela humanização do nascimento.
    Fiquei imensamente feliz de ver o relato dela aqui, já que também é uma mamífera como poucas!!!
    Feliz o Kael de ter uma super mãe, que produz muito leite movida a açaí (de verdade, não polpa congelada) e maniçoba hahahahahah!!!
    Beijos, com muitas saudades, de Recife pra Belém

  2. Ana Maria Says:

    É isso ai, minha filha, você sempre foi muito determinada, mesmo assim me surpreendeu muito. A partir da gravidez vc tomou decisões muito importantes que só beneficiaram seu filhote e ele ainda vai se orgulhar muito de ter sido amamentado com tanta dedicação e AMOR. Hoje ele já pede carinhosamente o PEITÃO. Beijos

  3. Sabrina Says:

    Linda a sua história (como sempre)… Mais do que leite, nossos filhos tem fome de mãe: mãe de verdade! Mãe empoderada! Mãe múltipla!
    Espero ter toda esse suporte que tiveste no teu retorno do trabalho. E continuar sendo a “vaca leiteira” que fui quando o Rico era bebe.
    Bjs

  4. Ana Lucia Says:

    Fazer parte desse time de mulheres que são mamíferas é uma honra, não poderíamos deixar de dar nossas tetas aos nossos filhotes se viemos ao mundo com peitos!!! E peito nós temos pra tudo na vida!! Thay, vc é fonte inspiradora de muitas mulheres e veio ao mundo com essa missão! E viva os olhares tortos pra nossos peitos à mostra, alimentando vida, sabedoria, carinho e amor!
    Beijão pra vc e pro mamador Kael!!!

  5. Polly Says:

    Thayssa, parabéns!!!!
    Como uma boa amante da racionalidade não poderia deixar de colocar esse “quase” na definição da amamentação, né? hauhauhauhau (eu tb sou assim.. :-P)
    Deixa disso, menina!! A amamentação foi exclusiva sim! hehehe
    Grande beijo e sucesso em toda essa vida linda que você tem! 🙂

  6. Martha Says:

    Thayssa, só agora descobri o seu relato! Muito lindo, parabéns pra vocês!!!
    Vital ainda mama, fazendo agora 1 ano e 9 meses!
    beijo grande

  7. silvio césar Says:

    Thayssa, parabéns pelo seu ato e por sua tropa de elite, sou casado à 9 anos e só agora resolvemos ter nossa filha, minha esposa se chama Thais e minha filhinha nasceu agora, sabado 08/11/2008 as 08:10am e se chama, THAYSSA, achei muita conscidência ao ver esse site no google, e espero que ela quando crescer seja tão determinada quanto vc é, mas acredito que vai puxar a mãe também o que já me deixa orgulhoso, mais uma vez parabens e sucesso para sua família.

  8. Thay Says:

    Povo, só pra comentar… Kael ainda mamando… 2anos e 4meses (19/01/2009)

  9. Suênia Santos Says:

    Que relato lindo! Já li o seu relato de parto também! Você é uma guerreira! Base de inspiração(digo por mim mesma)! Nem a conheço mas já a admiro bastante!
    Tenho uma filha de 9 meses, ela também mama bastante, espero também conseguir amamentá-la por bastante tempo assim como você e tantas outras estão conseguindo.
    Aaaah faz mais de 1 mês que estou frequentando o Ishtar aqui em Recife.
    Lamento profundamente não tê-la conhecido pessoalmente.
    PARABÉNS de verdade! Você ajuda muitas mulheres não só pelo seu trabalho mas principalmente pelo seu exemplo de vida.
    Abraços e beijos

  10. Thay Says:

    Mais um comentário… ainda mamando… 2a 7m. Processo de desmame em andamento, sem data, mas no nosso tempo.
    (15/04/2009)

  11. Gabriela Says:

    Thayssa querida,

    lindo relato em que mais uma vez vejo o quanto é importante o apoio daqueles que nos cercam em relação à amamentação. Você pode e deve dizer que Kael foi amamentado exclusivamente com LM!

    Grande abraço,
    Gabi

  12. Thay - a doula da Lu Says:

    Chegou o dia! Kael parou de mamar em 13/11/2009. 3 anos, 2 meses e 11 dias!

  13. Thay Says:

    Chegou o dia!
    Kael parou de mamar em 13/11/2009. 3 anos, 2 meses e 11 dias!

  14. Wal Says:

    Thay,

    A próxima vez que uma “tarada da amamentação” classificar a sua trajetória como “quase exclusiva”, você fecha os olhos, faz uma oração e pede para Deus perdoá-la, que ela não sabe o que faz (diz).

    Eu vou passar a vida lembrando disso. Já pedi perdão pra Ele, e minha penitência é aprender (definitivamente) que existem mil tons bonitos entre o branco e o preto.

    Você é uma das mamíferas mais radicais que eu tive a honra de conhecer.

    Como diria a canção: “quem dera se todas no mundo fossem iguais à você…”

    Beijos nos pés!

    Waleska Nunes

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