Quando eu estava grávida, nunca pensei em preparação para amamentação ou em dificuldades. Eu nem pensei que existia a possibilidade de ter dificuldades porque para mim amamentar sempre foi um desejo e uma coisa natural. Nunca cogitei não amamentar. Aliás, a hipótese de não amamentar nunca passou perto de mim. Nem procurar informações sobre o assunto eu procurei. Na minha cabeça era: coloca o bebê no peito e pronto! Simples assim.
Quando o Gabriel nasceu, eu sofri uma cirurgia de emergência e fiquei uns 2 dias na UTI. Por conta disso de uma complicação no meu parto, ele não pode mamar na primeira hora. Bem, também era desejo meu que ele mamasse na sala de parto, mesmo só descobrindo sua importância real muito tempo depois. Enquanto fiquei na UTI, meu filho foi alimentando com complemento. Não sei por qual razão, apesar de eu estar me recuperando e consciente na UTI, ninguém nunca cogitou que eu tirasse leite pra ele e eu era meio “mãezinha” na época, nem pensei nisso. Ninguém pode imaginar a culpa que sinto por conta disso.
Enfim, continuando…logo que fui para o quarto ele grudou de cara no meu peito e ficou horas. Deve ter ficado 1h em cada um. Tudo lindo, tudo perfeito. Quando fui pra casa, no 8º dia meu leite desceu. Aí sim que eu, na minha inexperiência, percebi que o tempo todo ele estava “só” no colostro, apesar de não ter chorado em momento nenhum. Por isso, deduzo que fome ele não passou. O leite desceu com toda a força. Meus peitos pareciam que iam explodir de tão enormes e duros. Fiquei com febre 2 dias. Eu parecia um esguicho e ele não dava conta de mamar, nunca esvaziava nenhum deles, felizmente. O “inconveniente”, se é que se pode aplicar esta palavra feia, era que eu vivia com as roupas cheias de fraldas dentro. Eu ia tomar banho e não conseguir nem me secar de tanto leite que pingava. Uma benção! De noite, as fraldas não davam conta e várias vezes eu tive que trocar de roupa e trocar toda a cama, pois levantava ensopada de leite.
Nunca coloquei relógio nas mamadas, pois já tinha aprendido, pelo menos, sobre livre demanda. No começo ele ficava geralmente meia hora (chutando) em cada peito. Depois de 1h ele começava tudo de novo. Eu não fazia praticamente nada além de amamentar. Passava as madrugadas no sofá vendo séries repetidas com ele no peito ou no carrinho ao lado. Dormi várias vezes sentada com ele no peito.
Na segunda semana meus peitos estavam todos esfolados e cortados pois ele estava com a pega errada (o lábio inferior não estava pra fora – peixinho). Gabriel mamava leite, sangue e lágrimas. Cada hora que fazia “nhé” pra mamar, eu começava a chorar. Ainda assim, em nenhum momento pensei em desistir. Foi quando a Ana Cris, minha doula, foi me ver em casa e ajudou com a pega além de recomendar o uso de conchas pra ajudar a cicatrizar. Comprei no mesmo dia! Outra benção! Com as conchas, a roupa não ficava encostando e ferindo mais os mamilos. Não passei pomada nenhuma. Só com as conchas e a correção da pega, em uma semana mais eu comecei a conhecer o paraíso do leite.
Eu achava que o pior tinha passado. Fisicamente tinha mesmo. Psicologicamente eu ainda tinha um longo chão pela frente, já que ele mamou até 2 anos completos.
Antes de voltar a trabalhar, eu não pude estocar leite, mesmo tendo muito, pois eu não tinha freezer em casa na época. Durante minha licença maternidade eu doei leite para a Maternidade Interlagos que ia retirar o leite em casa. Como eu não tinha freezer, eu guardava no congelador e eles iam buscar a cada 2 dias. Eu ligava e eles iam bucar. Super prático! Levavam o leite e traziam novos frascos esterelizados, prontinhos.
Quando voltei a trabalhar não tinha estoque de leite. Comprei uma bomba manual e ordenhava no trabalho. O Gabriel estava com 5 meses e meio na época. Eu fazia 3 ordenhas por dia e cada uma rendia entre 200-300ml. Meus peitos continuam explodindo mas eu não tinha tempo de ordenhar mais vezes. Chorei de dor trabalhando algumas vezes. Não conseguia levantar os braços. Fiquei com medo do leite ordenhado ser insuficiente pra ele e, num grito de socorro, entrei com contato com as amigas do peito no Rio de Janeiro, pedindo soluções pois tinha pavor só de pensar em complemento. A salvação veio da resposta simples e óbvia: se faltar leite, já pode coplementar com suco mas não dê fórmula. Como eu não tinha pensado nisso? Claro! Que simples! Só faltavam 2 semanas pra ele completar 6 meses. Assim foi e logo ele começou a ingerir frutas e papinhas progressivamente.
Ordenhei até ele completar 1 ano e, admito, cansei. Além do que no trabalho já não tinha mais tempo para as 3 ordenhas e a produção já tinha caído bastante também. Na verdade, tinha se regularizado de acordo com a demanda.Como ele comia bem, achei que seria desnecessário ordenhar. O Gabriel continuava mamando muito de madrugada, mas nas madrugadas que ele não acordava, ou acordava menos, eu levantava pra ordenhar e aproveitar o pico da prolactina para estimular a produção. Não era tarefa fácil mas, para mim, a única aceitável. Nunca faltou leite, nem quando eu parei de ordenhar, pois ele continuava mamando de manhã e à noite.
O Gabriel era um bebê grande e com menos de um ano as pessoas já começaram a me olhar com cara de espanto por ele “ainda” mamar. Aliás, o termo “ainda mama?” é bem conhecido por qualquer mamífera assumida. Nessa fase procurei um grupo de apoio e encontrei o ACA – Amamentando com Amor (lista de discussão). Esse foi um marco fundamental para o meu sucesso, além das palavras de apoio e incentivo da Analy, que sempre me inspirou e a quem eu carinhosamente apelidei de “fada madrinha da amamentação”. Ainda tenho muito a dizer sobre o preconceito e como consegui levar essa batalha até onde eu quis (2 anos completos) mas, para encurtar a história que já está enorme, vou atribuir o sucesso da nossa jornada de amamentação ao apoio dessas pessoas. Obrigada Analy, obrigada Mirka, obrigada ACA e obrigada Amigas do Peito. Sem vocês provavelmente eu não teria conseguido.
Eu volto para falar do preconceito na nossa fase de 1 a 2 anos.
Parabéns Matrice pelo trabalho!