Posts Tagged ‘Extração de leite/ volta ao trabalho’

6º dia de SMAM

agosto 6, 2008


Quando eu estava grávida, nunca pensei em preparação para amamentação ou em dificuldades. Eu nem pensei que existia a possibilidade de ter dificuldades porque para mim amamentar sempre foi um desejo e uma coisa natural. Nunca cogitei não amamentar. Aliás, a hipótese de não amamentar nunca passou perto de mim. Nem procurar informações sobre o assunto eu procurei. Na minha cabeça era: coloca o bebê no peito e pronto! Simples assim.

Quando o Gabriel nasceu, eu sofri uma cirurgia de emergência e fiquei uns 2 dias na UTI. Por conta disso de uma complicação no meu parto, ele não pode mamar na primeira hora. Bem, também era desejo meu que ele mamasse na sala de parto, mesmo só descobrindo sua importância real muito tempo depois. Enquanto fiquei na UTI, meu filho foi alimentando com complemento. Não sei por qual razão, apesar de eu estar me recuperando e consciente na UTI, ninguém nunca cogitou que eu tirasse leite pra ele e eu era meio “mãezinha” na época, nem pensei nisso. Ninguém pode imaginar a culpa que sinto por conta disso.

Enfim, continuando…logo que fui para o quarto ele grudou de cara no meu peito e ficou horas. Deve ter ficado 1h em cada um. Tudo lindo, tudo perfeito. Quando fui pra casa, no 8º dia meu leite desceu. Aí sim que eu, na minha inexperiência, percebi que o tempo todo ele estava “só” no colostro, apesar de não ter chorado em momento nenhum. Por isso, deduzo que fome ele não passou. O leite desceu com toda a força. Meus peitos pareciam que iam explodir de tão enormes e duros. Fiquei com febre 2 dias. Eu parecia um esguicho e ele não dava conta de mamar, nunca esvaziava nenhum deles, felizmente. O “inconveniente”, se é que se pode aplicar esta palavra feia, era que eu vivia com as roupas cheias de fraldas dentro. Eu ia tomar banho e não conseguir nem me secar de tanto leite que pingava. Uma benção! De noite, as fraldas não davam conta e várias vezes eu tive que trocar de roupa e trocar toda a cama, pois levantava ensopada de leite.

Nunca coloquei relógio nas mamadas, pois já tinha aprendido, pelo menos, sobre livre demanda. No começo ele ficava geralmente meia hora (chutando) em cada peito. Depois de 1h ele começava tudo de novo. Eu não fazia praticamente nada além de amamentar. Passava as madrugadas no sofá vendo séries repetidas com ele no peito ou no carrinho ao lado. Dormi várias vezes sentada com ele no peito.

Na segunda semana meus peitos estavam todos esfolados e cortados pois ele estava com a pega errada (o lábio inferior não estava pra fora – peixinho). Gabriel mamava leite, sangue e lágrimas. Cada hora que fazia “nhé” pra mamar, eu começava a chorar. Ainda assim, em nenhum momento pensei em desistir. Foi quando a Ana Cris, minha doula, foi me ver em casa e ajudou com a pega além de recomendar o uso de conchas pra ajudar a cicatrizar. Comprei no mesmo dia! Outra benção! Com as conchas, a roupa não ficava encostando e ferindo mais os mamilos. Não passei pomada nenhuma. Só com as conchas e a correção da pega, em uma semana mais eu comecei a conhecer o paraíso do leite.

Eu achava que o pior tinha passado. Fisicamente tinha mesmo. Psicologicamente eu ainda tinha um longo chão pela frente, já que ele mamou até 2 anos completos.

Antes de voltar a trabalhar, eu não pude estocar leite, mesmo tendo muito, pois eu não tinha freezer em casa na época. Durante minha licença maternidade eu doei leite para a Maternidade Interlagos que ia retirar o leite em casa. Como eu não tinha freezer, eu guardava no congelador e eles iam buscar a cada 2 dias. Eu ligava e eles iam bucar. Super prático! Levavam o leite e traziam novos frascos esterelizados, prontinhos.

Quando voltei a trabalhar não tinha estoque de leite. Comprei uma bomba manual e ordenhava no trabalho. O Gabriel estava com 5 meses e meio na época. Eu fazia 3 ordenhas por dia e cada uma rendia entre 200-300ml. Meus peitos continuam explodindo mas eu não tinha tempo de ordenhar mais vezes. Chorei de dor trabalhando algumas vezes. Não conseguia levantar os braços. Fiquei com medo do leite ordenhado ser insuficiente pra ele e, num grito de socorro, entrei com contato com as amigas do peito no Rio de Janeiro, pedindo soluções pois tinha pavor só de pensar em complemento. A salvação veio da resposta simples e óbvia: se faltar leite, já pode coplementar com suco mas não dê fórmula. Como eu não tinha pensado nisso? Claro! Que simples! Só faltavam 2 semanas pra ele completar 6 meses. Assim foi e logo ele começou a ingerir frutas e papinhas progressivamente.

Ordenhei até ele completar 1 ano e, admito, cansei. Além do que no trabalho já não tinha mais tempo para as 3 ordenhas e a produção já tinha caído bastante também. Na verdade, tinha se regularizado de acordo com a demanda.Como ele comia bem, achei que seria desnecessário ordenhar. O Gabriel continuava mamando muito de madrugada, mas nas madrugadas que ele não acordava, ou acordava menos, eu levantava pra ordenhar e aproveitar o pico da prolactina para estimular a produção. Não era tarefa fácil mas, para mim, a única aceitável. Nunca faltou leite, nem quando eu parei de ordenhar, pois ele continuava mamando de manhã e à noite.

O Gabriel era um bebê grande e com menos de um ano as pessoas já começaram a me olhar com cara de espanto por ele “ainda” mamar. Aliás, o termo “ainda mama?” é bem conhecido por qualquer mamífera assumida. Nessa fase procurei um grupo de apoio e encontrei o ACA – Amamentando com Amor (lista de discussão). Esse foi um marco fundamental para o meu sucesso, além das palavras de apoio e incentivo da Analy, que sempre me inspirou e a quem eu carinhosamente apelidei de “fada madrinha da amamentação”. Ainda tenho muito a dizer sobre o preconceito e como consegui levar essa batalha até onde eu quis (2 anos completos) mas, para encurtar a história que já está enorme, vou atribuir o sucesso da nossa jornada de amamentação ao apoio dessas pessoas. Obrigada Analy, obrigada Mirka, obrigada ACA e obrigada Amigas do Peito. Sem vocês provavelmente eu não teria conseguido.

Eu volto para falar do preconceito na nossa fase de 1 a 2 anos.

Parabéns Matrice pelo trabalho!

5 º dia de SMAM

agosto 5, 2008


 

Sophia e eu nos encontramos ao ar livre pela primeira vez às 10 horas de uma manhã fria e chuvosa de agosto, em 2003. Os fatos que antecederam aquele momento não foram nada parecidos com os desejos acalentados durante toda a doce espera, já que passei por toda uma seqüência de intervenções impostas que resultaram numa cesárea malvinda. Minha bebê Sophia me foi mostrada por uns dois segundos, que foram suficientes para que ela calasse seu choro sentido e trocasse comigo um profundo olhar… seu cheiro ficou impregnado em minhas narinas dali para sempre. Nós só nos encontraríamos de novo doze horas depois, graças a uma intensa batalha para driblar os protocolos da instituição, que me negou qualquer contato com minha filha enquanto não me transferia para um leito vago!

Enfim, o momento esperado havia chegado. Ficaríamos dali para frente em alojamento conjunto, embora fôssemos quatro mulheres internadas naquela enfermaria e o espaço fosse muito pequeno para os berços. E, frustação sobre frustração, minha filha parecia absolutamente desinteressada em meu peito, chorava desconsolada. A auxiliar de enfermagem que a trouxe saiu da enfermaria com um olhar de reprovação, dizendo que voltaria depois para ver como estávamos nos entendendo. Algum tempo depois voltou e afirmou que eu não estava tentando o bastante! Ai, eu estava aberta ao meio, de corpo e alma, e ainda levava bronca… Estava também preocupada de atrapalhar o sono das companheiras de quarto, já era bem tarde. Acho que a auxiliar percebeu meu desconforto, e finalmente se compadeceu: “olha, descansa um pouco, vou levar o nenê para uma voltinha, daqui a pouco trago de volta”. Como ela demorava, resolvi ir atrás e… encontrei-a dando NAN para Sophia! Com muito jeito – eu tinha receio de me tratarem mal – disse a ela que isso não ia ajudar em nada o bebê, e levei-a de volta para o berço. Não é preciso dizer que a menina adormeceu profundamente, só acordando no início da manhã.

Aí, o “milagre” aconteceu. Entrou no quarto uma auxiliar com uma carinha de tia da gente, da família. Me perguntou como estava o aleitamento e eu chorei, contando tudo o que havia acontecido. Ela me confortou, e disse que isso não era nada, que minhas mamas eram lindas, estavam cheias de leite e tudo ia dar certo. Falava e olhava nos meus olhos como se me conhecesse de muito tempo. E aí disse uma coisa maravilhosa: “sua filha só precisa saber que VOCÊ é o conforto de todos os males dela, e eu vou te ajudar… põe um pezinho para fora do macacão, que eu vou bancar a bruxa feia”. Para minha surpresa, ela encostou uma gaze úmida na sola do pezinho, enquanto eu posicionava o bebê. Confesso que tive dó, mas o choro cessou imediatamente quando ela percebeu o peito próximo, abocanhou com tudo e certinho, mamando gostosa e longamente, de olhinhos virados. A moça me disse: “não se preocupe, nunca mais precisamos fazer uma maldade dessas com ela de novo, tadinha, agora ela sabe que pode contar com você, e que você é tudo de que ela precisa”.

Saímos do hospital no dia seguinte. Tive apenas uma leve escoriação num dos bicos, que rapidamente cicatrizou e descamou. Descobri muito rápido que sabia tudo de amamentar, bastava me deixar levar pelas necessidades que tínhamos de estar juntas, eu e minha filha. Amamentar com gosto e muito prazer foi o melhor dos remédios para a tristeza que tinha sentido pela cesárea indesejada, foi a melhor das curas. Ali percebi minha autonomia, minha capacidade de gerar vida, e retomei o protagonismo que havia perdido no momento do parto.

Quando levei minha filha ao pediatra, 40 dias depois (sim, demorei, não queria nenhuma interferência e estava completamente auto-confiante!), fiquei super-orgulhosa ao ver que ela havia ganho 2 quilos! Não pude manter no exclusivo por causa da volta ao trabalho, mas escolhi não introduzir nenhum outro leite, apenas outros alimentos. Levantava às 4 da manhã e ordenhava meu leite para congelar. Na creche, ensinei as cuidadoras a descongelar e oferecer, e conseguimos manter essa rotina até que ela completasse 10 meses.

Foi uma doce interpendência que se desenvolveu ao longo de 1 ano e meio, até que um dia a danadinha me disse que não queria mais meu peito. Fiquei bem órfã, mas também percebi que minha mocinha estava agora exercendo sua autonomia e suas escolhas.

Ela vai completar 5 anos durante a SMAN, e conheço poucas crianças tão expressivas em seus próprios sentimentos e tão confiante em si mesma. Outro dia, tomando banho juntas, ela acariciou minha cicatriz e disse: “tadinha da mamãe, não vou deixar nenhum médico cortar sua barriga mais, tá?”

Débora mãe da Sophia

3º dia da SMAM!!

agosto 3, 2008


O Começo é difícil, mas Compensa!!

Durante a minha gravidez eu tinha certeza que o parto seria exatamente como eu queria, e não tinha medo nenhum da hora do parto. A única coisa que eu tinha medo era da dor que eu iria sentir ao amamentar. Isso porque todas as mães com quem eu falava me diziam que doía muito, que era uma tortura e que demorava para ficar bom. Para mim não amamentar estava fora de cogitação, então eu já pensava que teria que encarar a dor mesmo.

Logo que a Beatriz nasceu colocamos ela para mamar, só que ela não quis, pegou pouquinho e soltou. Ela dormiu e quando acordou novamente veio mamar. Não me lembro de ter sentido dor dela mamando, só que eu sentia muitas pontadas no seio todo. Como eu fiz cirurgia [de redução] eu morria de medo de não conseguir amamentar. Graças a Deus estava tudo indo bem, e em três dias o meu leite já tinha descido. Os seios ficaram MUITO cheios e enormes, pesavam e doíam tanto que eu não conseguia levantar os braços. Nos primeiros dias tinha que ordenhar um pouco para poder tirar o excesso de leite. A dúvida era quanto ordenhar, porque se eu tirasse demais, produziria mais, e de menos continuaria doendo. Me falaram para tirar só o suficiente para diminuir a dor. Eu sentia alguns dutos inchados e fazia massagem para poder tirar o excesso de leite que estava neles.

No terceiro (ou quarto) dia a Ana Cris veio me ver, viu que a pega estava correta e que o leite já tinha descido e estava tudo certinho. Apesar de estar tudo correto eu ainda tive muita dor nos seios durante uns dois meses. Algumas pessoas que conversei achavam que poderia ser por conta da cirurgia. O que acontecia era uma pontada fortíssima nos primeiros minutos que a Beatriz puxava o leite, depois passava e o resto da mamada era tranqüila.

Eu não acho que tive dificuldades com a amamentação, meus mamilos não ficaram machucados (apesar de as vezes ficarem doloridos) e as pontadas eram só no início da mamada. Como eu tive contato com várias outras mães e pessoas para ajudar e verificar se estava tudo correndo bem e dar dicas de como melhorar, acho que tudo foi bastante tranqüilo.

Amamentei a Beatriz exclusivo até os 11 meses (por opção e com base em diversas coisas que li) e agora começamos a introduzir os alimentos, só que ela não come tanto e por uns dias fiquei preocupada que ela perderia peso, aí encontrei com as meninas da Matrice e elas me trouxeram de volta à realidade e me lembraram que o meu leite é suficiente para a Beatriz! Ela continua mamando super-bem e eu amo amamentá-la. A noite só consigo dormir se ela estiver mamando!

 

Luana Arnhold, mamãe da Beatriz Thayla, nascida em 21/07/07 num lindo parto domiciliar

2º dia da SMAM

agosto 2, 2008

 

Sou mãe de duas lindas menininhas, gêmeas nascidas de um parto normal cheio de poréns, bem diferente do nascimento imaginado e idealizado para elas durante a gravidez.

 

Ainda assim, o momento em que minhas pimentas vieram para o meu colo e, com suas boquinhas pequeninas e famintas, abocanharam meus seios, uma de cada lado, todo o resto parecia ter desaparecido. Nós estávamos ali, nós nos bastávamos, e ainda que o resto do mundo desaparecesse, nós daríamos conta, porque tínhamos uma à outra, e isso era tudo o que precisávamos. Essa sensação é poderosa, e até hoje sua lembrança me toca e emociona.

 

Mas não, não foi tudo um mar de rosas. Logo vieram as dificuldades. A Estrela, minha pimenta-caçula, tinha dificuldades com a pega, irritava-se ao perder o bico, e quanto mais irritada ficava, mais dificuldade tinha. Fazê-la mamar por míseros cinco minutos era uma verdadeira luta. Mas eu insistia, muitas vezes chorando de dor pelos mamilos fissurados, ou de cansaço pelas noites mal (ou nem isso) dormidas.

 

Com uma semana de vida das meninas, a sentença impiedosa do pediatra: “você nunca vai ter leite suficiente para as duas, elas não vão ganhar peso, pode desistir!!”. Eu, que esperava um ombro amigo para chorar as dificuldades, palavras de incentivo e orientação para superar os problemas, saí do consultório com uma receita de leite em pó debaixo do braço.

 

Mas se tem uma coisa que é verdadeiramente imbatível, é a minha teimosia. Consegue ser maior que a desinformação do pediatra, que a falta de apoio e de orientação adequada, que a ignorância generalizada sobre a amamentação, seu significado e importância. Eu me recusava a acreditar que a natureza fosse incoerente a ponto de dar a uma mulher o dom de parir dois bebês ao mesmo tempo sem dar-lhe também a capacidade da alimentá-los sem a ajuda de um complemento artificial. Afinal, não se paria gêmeos antes da invenção do leite em pó??

 

Em casa, a rotina era exaustiva: Ana Luz acordava, eu dava de mamar, tirava leite para armazenar, Estrela acordava, eu ficava o tempo que fosse necessário – e não era pouco – para acalmar, conversar, orientar, aconchegar, tentar fazer com que se sentisse tranqüila e segura para mamar sem irritação e ansiedade, depois da mamada no peito às vezes dava uma mamadeira de LM, ela dormia e eu ia ordenhar mais para a mamadeira seguinte, Ana Luz acordava e eu começava tudo de novo.

 

Apesar da ansiedade geral, compreensível e esperada, as pessoas queridas à minha volta tiveram sensibilidade suficiente para perceber o quanto a amamentação era importante para mim, e se esforçaram ao máximo para colaborar e ajudar no que pudessem. Não foram raras as vezes em que, amamentando uma em um seio, meu marido, minha mãe ou a enfermeira que nos ajudou nas noites do primeiro mês vinham com uma xicrinha de café recolher o leite que pingava do peito não mamado. Eu também tinha sempre um ombro para chorar nos momentos em que achava que não ia conseguir e estava a ponto de desistir, e isso fazia toda a diferença.

 

Apesar disso, eu costumo dizer que se consegui manter a amamentação, e se quando as meninas completaram um mês pudemos aposentar definitivamente as mamadeiras e abandonar o hábito de ordenhar LM após cada mamada, foi porque entre milhares de outras coisas, eu sou uma pessoa extremamente cabeça-dura. Quando coloco alguma coisa na cabeça, ninguém tira. Isso, pro bem e pro mal. Nesse caso, foi pro bem.

 

Digo isso, porque quando olho para trás me dou conta que a força maior para persistir na amamentação não veio de fora, mas de dentro. Era meu instinto materno que falava mais alto, um sentimento que não se explica, uma vozinha que brotava no mais fundo do peito e me repetia que meu corpo era perfeito, e que minhas filhas não precisavam de nada mais além da minha força para acreditar, seguir em frente e não desistir.

 

Hoje, minhas pimentas têm 3 anos. Mamaram exclusivamente até o sexto mês, e mamam até hoje. Ao longo do tempo, foram espaçando naturalmente as mamadas, num movimento sutil, natural e absolutamente tranqüilo. Acredito que caminham para um desmame natural e sem traumas, o que me deixa muito feliz, porque a amamentação foi desde sempre um laço muito forte e especial entre nós, e nunca me agradou a idéia de cortar esse laço de forma brusca ou traumática para qualquer um dos lados.

 

Quando olho para nossa estória de amamentação, penso que minhas pequenas me ensinaram muito. A não desistir do que é importante, a confiar em mim, a acreditar que para superar as dificuldades não preciso de mais nada a não ser minha própria força de vontade. Elas me ensinaram que doar-se nem sempre é fácil, mas vale a pena. Com elas aprendi que as coisas mais importantes da vida exigem esforço, dedicação, mas acima de tudo, uma dose extra de delicadeza e amor. E que quando se faz o que se acredita de coração aberto, de um jeito de outro, as coisas se ajeitam.

 

A amamentação foi importante para as minhas filhas, sem dúvida. Mas foi mais importante ainda para mim. Porque me fez crescer, amadurecer, melhorar. Amamentar, para mim, foi muito mais do que dar o peito, dar o leite. Foi dar o melhor de mim, sem restrições. Um melhor que eu nem mesmo sabia que tinha. Mas que foi sendo descoberto, poeticamente, a cada mamada, a cada mãozinha me segurando o seio, a cada olharzinho repleto de ternura e pureza entre uma sugada e outra, a cada sorrisinho maroto escorrendo leite pelo canto dos lábios.

 

Eu lhes dei o leite. Elas me deram a vida!!!

 

Renata Penna, mãe de Ana Luz e Estrela

É HOJE!!!

agosto 1, 2008


Caetano chegou junto com a primavera de 2007, 5h15 do dia 22 de setembro. O parto fora exaustivo e o sonho da amamentação nos primeiros momentos não se concretizou. Eu e meu gigantinho estávamos exaustos, com poucas forças e precisamos nos recompor para iniciar nossa relação de amor através do leite.

Mas não tardou tanto assim. Por volta de uma hora depois nos reencontramos, Caetano instintivamente abocanhou meu seio e ficamos ali, maravilhados com aquele contato. Tanto que nem notei que em certo momento ele largou o bico e passou a mamar na auréola esquerda, deslize imediatamente corrigido pelas parteiras da Casa de Parto que acompanhavam este momento com o intuito de auxiliar e incentivar o ato de amamentar.

Durante aquele sábado, amamentar foi uma delícia. Domingo percebi que ele era mais guloso que os outros bebês que nasciam naqueles momentos na Casa. Pedia muito o peito, tinha uma necessidade imensa de sugar e dormia muito pouco.

Por conta do peso de nascimento de Caetano, 4270k, ficamos por 3 dias na Casa de Parto quando o normal seria 24h. E foi na última noite que passamos lá, de segunda para terça-feira que a amamentação começou a ficar difícil.

Após o nascimento de uma menina, por volta da 1h da manhã, Caetano se agitou. Amamentava, mas não o acalmava. Uma das enfermeiras foi um pouco grossa ao entrar nervosa e dizer – mesmo depois de eu ter passado 2hs amamentando – que não ia falar mais uma vez o que eu tinha que fazer. Assustada, deitei com Caetano e amamentei em posições horríveis por 4 horas sem parar.

Ao amanhecer percebi que um dos meus bicos, o esquerdo, estava praticamente pendurado e o direito ‘apenas’ fissurado. Amamentar perdeu um pouco o brilho e ganhou muita dor e dificuldade.

Na tarde do mesmo dia já estava em casa (ufa!) e achei melhor tentar o famoso bico de silicone. Fomos eu e minha mãe numa farmácia e compramos. Não funcionou. A dor continuava com a presença do bico e Caetano ficava muito nervoso com aquele corpo estranho entre nós. Sem contar que os restos dos ferimentos grudavam no silicone e mesmo fervendo eu encontrava vestígios de sujeira, simplesmente nojento. Tentei por 2 dias e desisti.

Na quinta-feira decidi ordenhar e oferecer meu leite na colherinha para Caetano que aceitou. Assim, o bico descansou e eu combinei este descanso com a aplicação da casca de banana por 15 minutos e luz direta. No domingo o prazer da amamentação já estava conosco novamente.

Neste meio tempo o maluco do pediatra que se dizia a favor da amamentação preparou uma receita ridícula de NAN, alegando que Caetano deveria estar ganhando 30 grs por dia e que isto não estava acontecendo pois, apesar de eu ter um boa oferta de leite ele não conseguia ingerir o necessário. Dei um ponto final na nossa história com este médico louco, marquei com um homeopata e, no tempo em que esperava a consulta com este novo médico contei com o apoio das meninas da Matrice e tudo correu bem. Caetano nunca conheceu o tal NAN.

O prazer em amamentar aumentava gradualmente. Lembro que no ínicio amamentava de frente para um relógio, contando quanto tempo durava cada mamada. Não que em determinado momento eu tirasse Caetano do peito por decidir que já estava bom, aliás nem sei dizer porque, mas achava essencial olhar o relógio enquanto amamentava.

No segundo mês tive uma mastite (a primeira). Tive tanto medo de ter que parar de amamentar. Escrevi na lista da Materna e a Flávia Gontijo disse que eu poderia ligar para ela. Era madrugada, liguei e foi fundamental. Passei o resto da noite/madrugada aliviada, oferecendo muito o peito afetado para o Caetano. Acordei bem melhor e segui as outras dicas da Flá (água quente, dança africana, ordenha) e da Analy, que também me escreveu indicando os possíveis motivos da mastite. Foi após este episódio que aposentei o relógio e comecei a olhar mais para o Caetano durante as mamadas. Tentava olhar para cada poro do meu bebê, amamentava e contemplava!

Voltei ao trabalho quando Caetano tinha praticamente 6 meses com uma hora para amamentá-lo. Detalhe: sou educadora e Caetano está frequentando o berçário da Creche em que trabalho. Daí que não sofremos nenhum grande trauma neste período. Cheguei a estocar leite, mas não foi necessário pois amamentei no meio do expediente até que ele completou nove meses.

Tive uma outra mastite – esta bem mais traumática – durante o mês de junho. Dor, calafrios, febre local. Não parei de amamentar ainda assim e foi amamentando que a inflamação drenou. Alívio. Mais uma vez a parceria Elly&Caetano mostrava sua força.
Comecei a introdução de alimentos aos seis meses, mas ele não é grande fã de alimentos sólidos, come quando dá na telha. Agora começou a comer na Creche. Chora, mas come, dizem as professoras. Tem 9 meses, quase 10. Mama bastante durante a noite e isso não me incomoda. Percebo que muita gente tem necessidade de desmamar os bebês das mamadas noturnas e é algo que nem me passa pela cabeça.

Não serei hipócrita de dizer que amamentar é só flores, mas preciso dizer que é bom demais!

Elly, mãe do Caetano

Faltam 5 dias…

julho 27, 2008

Depois de engravidar, meu sonho era amamentar para me sentir completa. Queria sentir o calor do meu filho perto de mim, que ele pudesse ter o contato mais natural possível com as vitaminas que o leite materno dispõe. Pra minha felicidade, em uma das consultas do pré-natal, minha médica disse que eu já tinha colostro, aos 5 meses de gestação. Mas meus seios são pequenos e eu pensava que não teria leite suficiente. Pensei também: “e se ele não quiser mamar?” Eram tantas as dúvidas e inseguranças, juntando com os hormônios super-ativados da gravidez, que o jeito mesmo era esperar pra ver. Participávamos de um grupo de casais grávidos onde aprendemos sobre o antes, o durante e o depois do nascimento. Essa vivência nos ajudou bastante, dando-nos segurança e desmistificando muitas crenças que passam de geração em geração.

De um parto domiciliar, nasceu Ernesto! Nosso primogênito chegou no dia 4 de janeiro de 2007, após 21 horas de trabalho de parto  acompanhadas das doutoras Melania e Leila e da doula Daniela.  Durante todo o TP, o apoio do pai foi incondicional, auxiliando nas massagens para relaxamento durante as contrações e sempre presente chamando: “vem, Ernesto!”. O momento do nascimento é maravilhoso! O fato de Ernesto ter ido para meu colo logo após a expulsão foi de extrema importância: o reconhecimento do seio, o calor dos braços da mãe, mesmo antes de cortar o cordão umbilical. Pra minha felicidade, ele queria mamar! E depois que o leite “desceu”, haja peito! Tanto que consegui armazenar alguns vidros de leite. Levei alguns para doar, e ainda consegui fazer um pequeno estoque congelado ou pasteurizado.

Queria que meu filho mamasse exclusivamente mesmo após minha licença maternidade terminar. Sempre adotei a técnica de deixá-lo mamar um dos seios o máximo possível para que, dessa forma, ele pudesse sugar o colostro que vem primeiro e o “leite de verdade” que vem depois. Depois, na próxima mamada ele mamava o outro seio o máximo possível. Aprendemos que deixá-lo mamar 15 min em um seio e 15 min em outro era errada, pois assim ele acaba mamando somente o colostro e não ganha peso. Nos primeiros dias, confesso que fiquei desesperada, pois ele escolheu um dos seios e não queria o outro. O mamilo daquele que ele escolheu começou a rachar e o outro, cheio, vazando, começou a “endurecer” e doer, foi sofrimento. Tinha que persistir, e não desistir de amamentar. Contei com a ajuda da “bombinha” pra esvaziá-lo e com a ajuda do pai para fazer o bico rejeitado “aumentar”. Era isso! Eu tinha um dos mamilos “curto” e Ernesto preferia aquele mamilo maior, que dava uma pega melhor. Ele mamava, 40, 50 minutos. Na próxima mamada ele não aceitava o outro, e doía e eu chorava e ele chorava também. Depois, com insistência e paciência, o problema foi resolvido em alguns dias! Outra noite de sofrimento que marcou foi por volta do 7º dia de nascido. Ernesto mamou. Mas mamava e chorava. Desesperado! Ninguém dormia. Pensei: “meu leite secou!”. Apertava os mamilos e não saía leite. O que eu faço? Pedi uma lata de complemento na farmácia. “Ah, não! Vou ter que dar complemento, com menos de 1 mês?” Calma! Liguei pra doula, conversamos um pouco. Resolvemos que iríamos esperar até o dia seguinte para ver se o fluxo de leite voltaria ao normal. Ligamos pra farmácia e cancelamos o pedido do complemento. De fome ele não ia morrer. Fomos acalmando-o com carinho e oferecendo o peito, nem que fosse pra fazer de chupeta. No outro dia, para a nossa felicidade, o leite jorrava! Ernesto agradecia e se esbanjava de tanto mamar!

Enfim, nada como o apoio de pessoas certas numa hora dessas! Hoje, com 1 ano e 6 meses, Ernesto ainda mama. É um garoto saudável, alegre e esperto.

Sylvana Carla, mãe do Ernesto

Faltam 9 dias…

julho 23, 2008

Sempre achei que amamentar seria uma coisa natural e fácil. Natural é, mas não foi nada fácil.

Tive um parto domiciliar super tranquilo mas meu bebê não quis mamar logo que nasceu e com isso percebi que ali começaria a minha luta. Eu não tinha bico, então a Ana Cris me aconselhou a usar as conchas para formar o bico. Comprei no dia seguinte e começei a usar. O Felipe resolveu mamar e com muita vontade. Meu leite desceu logo e não tive grandes problemas, só uma febre e um mal estar, que logo passaram. Ele mamava com muita vontade e cada vez que ele pegava o peito eu sentia mais dor. O bico foi ficando machucado e a dor aumentando. Ele tinha uma pega perfeita, mas mesmo assim doía bastante.

Adotei a livre-demanda, ele mamava a toda hora e o peito cada vez mais machucado, não doía mais só quando ele começava a mamar, mas a mamada toda. Meu marido me apoiava, mas minha mãe e minha sogra falavam que não tinham conseguido amamentar, que era muito difícil, que se eu desistisse não teria nenhum problema. Mas eu não queria desistir, sabia que era o melhor para o meu filho e não podia desistir.

Quando ele estava com 15 dias não aguentei, chorava só de pensar que ele ia acordar para mamar, meu marido chegou do trabalho a noite e me pegou chorando junto com o bebê desesperada e dizendo que não estava mais aguentando. Acho que juntou tudo e desabei. Ele ligou para os meus pais e eles vieram pra casa. Meu pai comprou uma lata de Nan e minha mãe deu a mamadeira pro Felipe, porque eu não conseguia. Saí pra comer alguma coisa, precisava colocar as minhas idéias em ordem. Pensei: Amanhã vou alugar uma bomba e tirar o meu leite pra dar pra ele. Se não conseguir amamentar no peito pelo menos o meu leite ele vai tomar. Não conseguia nem pensar em colocá-lo no meu peito naquela hora. Hoje sei que foi mais piscológico do que físico, mas naqulele momento estava em desespero.

No dia seguinte, aluguei a bomba e comecei a tirar o meu leite, mas eu estava inconformada de dar Nan pro meu filho. Tinha vergonha de receber visitas por causa da mamadeira. Chamamos a Ana Paula em casa e ela foi um anjo. Conversou comigo e me fez ver que não era o fim do mundo, que isso acontecia bastante e que realmente é muito difícil a amamentação exclusiva. Fiquei um pouco mais calma e disse pra mim mesma: Vou dar um tempo e vou começar tudo de novo.

Depois de uns dias tirando meu leite e complementando com Nan, eu voltei a dar o peito. Foi uma alegria enorme, eles não doíam mais, estavam cicatrizados. Só o que me incomodava um pouco era a sonda de relactação que usei com medo dele não pegar o peito. Mais uns dias e fomos na consulta com o Cacá, foi uma terapia, chorei tudo que eu tinha pra chorar e ele me disse: Vocês não precisam da sonda. Cheguei em casa e guardei aquela sonda no fundo do armário e realmente nós conseguimos nos acertar e tudo foi ficando perfeito.

Um pouco antes da consulta de 2 meses o tempo deu uma esfriada e o Felipe não queria saber de mamar, só ficava 5 minutos no peito e depois largava. Liguei para o Cacá deseperada e ele disse que se ele estava ativo, não tinha problema nenhum. Fiquei mais calma. Na consulta de dois meses veio o susto, o Felipe não tinha engordado quase nada em 40 dias. Ainda bem que o pediatra era o Cacá. Ele me pediu pra colocar o Felipe bastante no peito e voltar lá depois de uma semana. Tentamos fazer um intensivão mas ele não queria, chegava a ficar 5 horas sem mamar, mas mesmo assim engordou mais um pouco e chegamos a conclusão que ele seria magrinho como o pai.

Agradeci a Deus por ter um pediatra que pensa assim. Ele sempre está na faixa vermelha do gráfico de peso e ele disse que não tem problema, porque está crescendo super-bem. Quando ele estava com 3 meses e meio e faltavam 15 dias pra eu voltar a trabalhar comecei a fazer o estoque de leite. Depois descobri que tinha que ter começado antes, mas a moça do aluguel da bomba me disse que só podia congelar o leite por 15 dias. Mesmo assim consegui fazer um estoque de 1 litro. Mas uns dias antes de eu voltar a trabalhar o meu leite deu uma diminuída e o Felipe teve um surto de crescimento e queria mamar cada vez mais. Tive que dar o meu estoque para o Felipe mamar nesses dias e ele se foi. Agora que estou trabalhando, estou sem estoque e produzindo em um dia o que ele vai tomar no outro e ele mamando cada vez mais e assim vamos levando, um dia de cada vez. Mas eu gostaria de dizer que vale muito a pena. É gratificante saber que aquele bebezinho está crescendo a cada dia graças a você.

Debora e Felipe (4 meses)

Faltam 17 dias… mais uma semana se passou!!

julho 15, 2008

Amamentar era o sonho da minha vida! Tanto quanto ter o meu filho de parto natural. O encanto se quebrou quando meu filho teve quer ser internado na UTI por desconforto respiratório. Foram dias de tortura e a única coisa que eu pensava era: não vou conseguir amamentá-lo. Mesmo na UTI recebendo o leite que eu ordenhava com muito amor e carinho, os dias iam se passando, meu gatinho melhorando rapidamente e minha paúra de levá-lo para casa e descobrir que ele não ia querer mamar mais, pois somente no momento que nasceu, sentiu o calor do meu seio na ânsia de alimentá-lo, e depois ele foi levado de mim. Uma frase ecoava na minha cabeça como um mantra: “Se até mãe adotiva amamenta, por que você não conseguiria? Amamentar não é só saciar a fome. É uma comunhão de amor entre você e ele”, dizia o pediatra do Enzo para mim, sempre aflita.

Cada dia que se passou em casa foi uma vitória, uma conquista! No começo da amamentação ele teve problemas de pega, eu problemas com monilíase, mas a dor sentida face ao seu sorriso de prazer acalentado nos meus braços não tinha intensidade alguma.

Minha mãe sempre foi uma graça, todos os dias ao meu lado repetindo a mesma frase, com aquele amor incondicional de mãe que todos conhecemos: tudo isso vai passar filha. Amamentar é muito gostoso e você vai ver como é. Vai melhorar… vai melhorar… e o pranto dela rolava junto com o meu.

Os dias passaram e comecei a sentir o maior prazer da minha vida: amamentar o meu filho com paz e tranquilidade. Sem medos, nem dores. Hoje o Enzo tem quase 2 anos, e meu maior presente é ainda poder oferecer para ele o leitinho que eu preparo ao longo do dia enquanto trabalho, com o maior amor do mundo: o leite materno.

Gisele, mãe do Enzo

Faltam 18 dias…

julho 15, 2008

Curioso escrever esse relato justo hoje*, quando há pouco dei uma bronca no meu filhotinho porque ele insistia em morder meus mamilos, apesar de eu dizer “não morda, senão mamãe não lhe dá o peito”. Depois de muitos choramingos, e pedidos de desculpas na forma de 1000 beijos, retirei o castigo e sucumbi aos pedidos de “peito, peito, peito”. Ele mamou e dormiu.

Estamos no comecinho de julho de 2008, e no dia 6 completaremos, Gabriel e eu, 18 meses de amamentação. Um processo de crescimento mútuo e de transformações na vida de nossa pequena família, incluídos aí meu marido e meus pais, grandes incentivadores e primeiros de muitas pessoas que me ofereceram seu apoio na amamentação de meu filho.

Depois deles, recebi também o apoio de uma médica, aqui do Recife, que trabalha no Banco de Leite do IMIP, Dra. Bernadete Dantas. Ela tem um trabalho lindo com amamentação, tanto no Banco de Leite como em consultório, e quando estava grávida de 8 meses, marquei uma consulta. Boas notícias: segundo ela eu já tinha colostro e mamilos excelentes! Agora era dar banhos de sol nos mamilos e esperar a chegada de Gabriel.

Nossa jornada de amamentação começou, de fato, após um lindo parto hospitalar na água, em Recife, no dia de Reis de 2007. Apoiada por pessoas fantásticas, que tive a grande sorte de estarem a meu lado naquele momento, pude trazer Gabriel ao mundo da melhor maneira possível: um parto tranqüilo, natural, sem intervenções, plenamente consciente e feliz!!! Leila Katz, a médica que acompanhou a gestação e parto, foi a responsável por pegar Gabriel e colocá-lo no meu peito, imediatamente após o nascimento. Ato contínuo, ainda unidos pelo cordão umbilical, Leila, aquela que sempre apoiou minhas decisões, foi quem ajudou Gabriel a começar a mamar, dando a ele o primeiro apoio para ser amamentado.

Tive muita sorte, meus mamilos não racharam, o leite desceu rapidamente, ele mamava sem problemas. Que coisa fantástica, como a Natureza funciona!!! De meus peitos saía todo o alimento que meu filho precisava e, sintonizados com ele, sabiam quando ele ia despertar, começando a jorrar o leite segundos antes dele acordar. Nunca esquecerei essa sensação, e realmente lamento por aquelas que não sabem o que é isso.

Primeiras consultas com a pediatra, tudo ótimo. Até que, com quase 1 mês de nascido, teríamos que viajar a Espanha, a pediatra achou que Gabriel não ganhava tanto peso quanto deveria e indicou dar complemento. Atordoada, dei, e qual minha surpresa ao ver meu filhinho com febre, todo vermelho!!! Reação alérgica àquele leite estranho… Por telefone, minha amiga Thayssa lembra de Dra. Bernadete, volto a procurá-la, que novamente me dá o apoio necessário: não era caso de complementar com leite em pó. Examinou minhas mamas, leite sobrava. A pega estava ótima. Até que ela observou como ele mamava e verificou que ele gostava mesmo era de mamar o primeiro leite, mais aquoso e fácil de sair, e tinha preguiça de mamar o leite final, mais gorduroso. Recomendação: retirar o primeiro leite, reservar para dar depois da mamada e oferecer a mama com o leite posterior. Simples assim.

E a partir daí, tudo fluiu. Foram 6 meses de amamentação exclusiva, com direito a “copiarmos” a iniciativa da Matrice aqui em Recife e fazermos o primeiro “Mamando no Parque”, no dia das mães de 2007.

Retornei ao trabalho no 5o mês e recebi mais um grande apoio, dessa vez do pessoal do trabalho, que disponibilizou uma sala para que eu retirasse o leite com bomba tranqüilamente, bem como permitiram que eu alterasse o horário de trabalho para adaptá-lo melhor às necessidades do meu filho.

Aos 6 meses de vida, Gabriel começou a ter curiosidade por outros alimentos e iniciou uma nova fase, conhecendo os alimentos. Nem por isso a amamentação ficou de lado. Seguia mamando feliz da vida, e eu também. Aos 7 meses decidimos colocá-lo no berçário e qual a surpresa das pessoas ao verem que ele “ainda” mamava.

Foi a primeira de muitas reações, positivas e negativas. Há pessoas que ficam muito felizes em ver que você amamenta e que seu filho adora, mas infelizmente também temos que lidar com comentários desagradáveis. Decidimos, então, meu marido e eu, incluir os seguintes mantras em nossas falas: “a OMS recomenda o aleitamento, NO MÍNIMO, por 2 anos”... e para os que insistem, temos o “Gabriel é alérgico à lactose, e a pediatra recomendou amamentá-lo o máximo possível.”

Não só recebi muito apoio para amamentar, como também tento apoiar a quem me procura. Infelizmente não tanto quanto gostaria, mas faço o que é possível, na esperança de um dia dispor de mais tempo para me dedicar a essa tarefa, até porque observo que as mães e futuras mães pouco (ou nada) sabem sobre amamentação, que geralmente não é um processo fácil, principalmente na sociedade cesarista e imediatista em que vivemos, que insiste em retirar prematuramente os bebês do útero de suas mães e privá-los de serem amamentados.

Deixo aqui meu relato, com muitos beijos,

* Depoimento escrito no dia 3 de julho/2008, por Nelia, mãe do tagarela Gabriel, que nasceu no Recife, em janeiro de 2007, de PN hospitalar na água, com uma circular de cordão, sem intervenções nem lacerações, naquela maravilhosa banheira inflável azul que veio “d´além mar”, sob os cuidados de Leila e Melania

Faltam 21 dias…

julho 11, 2008

Eu me considero sortuda porque nunca tive problemas para amamentar. Para mim a amamentação sempre foi um ato carinhoso, amoroso e recheado de sensações deliciosas, uma ligação fortíssima que selei com meu filhote desde seus primeiros momentos de vida.

Porém, quando tive que voltar a trabalhar, começou a rolar uma certa pressão para o desmame. Há uma creche no meu trabalho e apesar da facilidade e rapidez que eu tinha de chegar até o Samuel, sentia nas berçaristas uma certa impaciência, já que ele era um dos poucos bebês que ainda mamavam exclusivamente no peito. As outras mães amamentavam, sim, mas aos poucos foram substituindo algumas das mamadas por complemento e logo iniciaram a introdução de alimentos.

Eu segui firme e forte no aleitamento exclusivo, apesar de alguns olhares enviezados e de alguns comentários sutis, mas que mexiam comigo, como “esse leite não sustenta mais, hein!?” ou “agora a tendência é o leite secar, né?“… Procurava não ligar, mas dependendo do meu nível de cansaço, da quantidade de trabalho acumulado, e das noites mal dormidas, isso às vezes me incomodava.

Apesar de tudo, alcancei os 6 meses de amamentação exclusiva e continuei a amamentar meu bebê toda tarde até 1 ano de idade, isso além das mamadas de manhã, antes de dormir e durante a madrugada, que continuam até hoje. Quando estamos juntos, a livre demanda ainda é a regra aqui em casa. O Sam, que hoje tem dois anos e um mês, é uma criança feliz, amada, segura, independente e vai continuar a mamar no peito enquanto quiser ou enquanto estiver bom para nós dois. Acho que vai longe, viu? Ainda bem!

Aurea Gil, 29 anos, mãe do Samuel, 2 anos e 1 mês, nascido de parto normal hospitalar em São Paulo, SP